Avaliação Parcial da 1a Unidade (leiam as instruções com atenção!!!)

Caros e caras,

Como prometido, seguem abaixo as questões da Avaliação Parcial da 1a Unidade do curso - na qual tratamos de aspectos introdutórios sobre a estrutura discursiva da narratividade (com especial atenção sobre noções como "tema", "isotopia", "topic"), assim como sobre regimes genericamente poéticos do discurso narrativo (em aspectos como os das modalidades "miméticas" e "diegéticas" da representação dos acontecimentos). 

Antes de lançar as questões, alguns esclarecimentos, contudo: peço especial atenção aos "modos de usar", discriminados no início da avaliação (eles estarão presentes, como instruções prévias, em todas as avaliações parciais até o fim do semestre), pois da observância a esses itens depende uma boa parte do sucesso na resposta às questões, que envolvem sempre uma boa compreensão dos textos de base e uma capacidade razoável de sua aplicação aos casos que são sugeridos para abordagens mais "analíticas" de materiais narrativos da cultura mediática.

Em tempo, ressalto que a data da entrega das respostas (lembrando que vcs. devem escolher duas das quatro questões mais abaixo para responder), através do sistema do Classroom (na área dos "Atividades") é a próxima sexta-feira, dia 23 de maio.

Desejo boa sorte a todos e todas.

Atenciosamente, 

Benjamim

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CULTURAIS E MÍDIA

Disciplina: Introdução às Teorias da Narrativa (GEC 114)
Professor: Benjamim Picado
Horário: 4as, das 14 às 18:00
Local: Sala J11E (IACS-Campus do Gragoatá)

AVALIAÇÃO PARCIAL - 1a UNIDADE

Modo de Usar: Para o correto tratamento das questões da prova, valorize sua capacidade de argumentação, procurando exercitar algum distanciamento com respeito ao modo de exposição das idéias dos textos centrais da unidade (ao invés de apenas transcrever os textos, procure parafraseá-los um pouco que seja). No que respeita a compreensão dos itens da unidade, valorize um tratamento mais esquemático das idéias mais importantes, prestando sempre atenção naquilo que é especificamente pedido em cada questão. Nas perguntas de teor mais analítico (de exame de objetos ou obras), procure correlacionar os dois domínios de capacidades requisitados (o da boa compreensão dos textos de base e o do exercício não impressionista da análise dos materiais propostos). Em tempo, o limite para abordar cada questão é de 1.000 palavras.
  
1. Considere as duas seguintes passagens do texto "Fronteiras da narrativa", de Gérard Genette - primeiramente esta, em sua página 269:

"A imitação direta, tal como funciona em cena, consiste em gestos e falas. Enquanto que constituída por gestos, ela pode evidentemente representar ações, mas escapa aqui ao plano linguístico, que é aquele onde se exerce a atividade específica do poeta. Enquanto que constituída por falas, discursos emitidos por personagens (...), ela não é rigorosamente representativa, pois que se limita a reproduzir tal e qual um discurso ereal ou fictício".

A seguir, outra passagem do mesmo texto, agora, nas páginas 271 e 272:

"A representação literária, a mimesis dos antigos, não é portanto a narrativa 'mais' os discursos: é a narrativa e somente a narrativa. Platão oporia mimesis a diegesis como uma imitação perefeita a uma imitação imperfeita. Mas a imitação perfeita não é mais uma imitação, é a coisa mesmo, e finalmente a única imitação é a imperfeita. Mímesis é diegesis."

Considerando aquilo que Genette afirma sobre o horizonte "diegético" de toda "mímese" (isto é, o fato de que, em contextos narrativos, mesmo a imitação já é diegética), como vc. decomporia a seguinte seqüência fílmica em seus elementos respectivamente imitativos e/ou narrativos? 

Heat (1995), dir. Michaell Mann

Procure argumentar sobre o ponto a partir da compreensão sobre os textos básicos da unidade tratados até aqui e se valendo de algum poder de síntese na argumentação sobre o ponto. 

2. Considerando as argumentações dos textos de Umberto Eco, Ugo Volli e Boris Tomachevski, procure discorrer suficientemente (mas de modo breve) sobre as diferenças e/ou proximidades entre os conceitos de "topic" e de "tema" - especialmente com respeito àquilo que, no modo como se determinam os conteúdos semânticos dos textos, faz as estruturas textuais e discursivas da narrativa dependerem da interação entre as a superfície dos textos e os processos de leitura. Ao tratar da questão, procure desenvolver seus argumentos a partir de algum exemplo prático que seja (uma notícia de jornal, uma seqüência fílmica, um episódio de um romance, uma página de quadrinhos, etc.)

3. Avalie a seguinte passagem do texto de Ugo Volli, "Estruturas" (em seu Manual de Semiótica, às sua páginas 86 e 87):

"Greimas define a isotopia como um 'conjunto de categorias semânticas redundates, que tornam possível a leitura uniforme da história' (...). Se dizemos 'Paulo derrubou a garrafa. A toalha estava toda manchada', a coerência entre as duas frases (...) é assegurada pelo fato de que em nossa enciclopédia sabemos que as garrafas geralmente contém vinho, que o vinho é servido com frequência à mesa, que as mesas para as refeições geralmente são cobertas com toalhas, que o líquido contido nas garrafas derrubadas se espalha, impregnando aquilo sobre o qual estão apoiadas, e que, finalmente, o vinho tem coloração, logo mancha os tecidos." 

A seguir, considere esta outra passagem, desta feita de Umberto Eco, no capítulo "Estruturas discursivas" (em seu Lector in Fabula, à página 74):

"Há casos em que topic e isotopia parecem coincidir, mas fique claro que o topic é um fenomeno pragmático ao passo que a isotopia é um fenômeno semântico. O topic é uma hipótese que depende da iniciativa do leitor (...). Portanto, ínstrumento metatextual que  texto pode tanto pressupor quanto conter explicitamente, como marcadores de topic, títulos, subtítulos, expressões-guia. Com base no topic, o leitor decide magnificar ou narcotizar as propriedades semânticas (...) em jogo, estabelecendo um nível de coerência interpretativa, chamada isotopia."  

Com base na leitura dos dois textos, procure analisar o seguinte episódio do Porta dos Fundos:


Porta dos Fundos - Retrospectiva 2021

Ao analisar esse segmento, discorra suficientemente (mas de modo breve) sobre as diferenças entre os conceitos de topic e de "isotopia" - especialmente com respeito àquilo que, nas estruturas textuais e discursivas da narrativa, dependem simultaneamente da interação entre texto e leitura e das propriedades semânticas internas ao texto. Na medida do possível, procure comparar esses conceitos com a argumentação que Boris Tomachevski desenvolve sobre o problema da "temática" das obras narrativas.

4. Considere a seguinte passagem do capítulo "Histórias", em Manual de Semiótica, de Ugo Volli, (à sua página 94):

"A maior importância da manifestação linear do texto é uma das características que distingüem a linguagem poética da cotidiana. Enquanto na linguagem cotidiana - de função principalmente referencial - habitualmente entendemos as palavras como mero veículo para exprimir certas idéias ou certas afirmativas sobre eventos ou objetos do mundo real (...), na linguagem poética - na qual a função estética é mais acentuada - às vezes são introduzidos determinados artifícios que visam manipular a superfície expressiva do texto e portanto perturbar o automatismo da percepção e da interpretação referencial."

Em seguida, leve em conta esta outra passagem, desta feita extraída do capítulo "Estruturas narrativas", em Lector in Fabula, de Umberto Eco (às páginas 90 e 91):

"O primeiro livro do Genesis conta, decerto, uma história em que ocorrem mudanças de estado, por obra de um agente cheio de claros propósitos, o qual ativando causas e efeitos pratica ações de rara dificuldade que (...) não constituem escolha totalmente óbvia. Mas ninguém poderia dizer que os eventos conseqüentes à ação resultavam ser inesperados, estranhos ou inusuais para o agente, porque ele sabia com exatidão o que aconteceria se dissesse fiat lux ou se separasse a terra das águas (...). Todavia, seria difícil negar que o relato sobre a criação do universo constitui uma bela obra de narrativa."

Por fim, avalie este outro segmento, oriundo de "Introdução à análise estrutural da narrativa", de Roland Barthes (às páginas 40 e 41):

"Uma seqüência é uma série lógica de núcleos, ligados entre si por uma relação de solidariedade: a seqüência abre-se assim que um de seus termos não tenha antecedente solidário e se fecha logo que um de seus termos não tenha mais conseqüente. Para tomar um exemplo voluntariamente fútil, pedir uma consumação, recebê-la, consumi-la, pagá-la, estas diferentes funções constituem uma seqüência evidentemente fechada, pois não é possível fazer preceder a encomenda ou fazer seguir o pagamento sem sair do conjunto homogêneo consumação."

Tendo em vista os problemas apresentados nessas passagens, versando sobre as especificidades e funcionalidades da seqüência narrativa, avalie agora este breve episódio do início do romance A Metamorfose, do escritor tcheco Franz Kafka: 

Franz Kafka, A Metamorfose

Com base na leitura dos textos da unidade e também levando em conta os segmentos desses mesmos textos acima referidos, procure analisar esse segmento narrativo, considerando os aspectos de sua coerência interna (sua "isotopia"), enquanto elementos que funcionalizam essa sequência como "porção de fábula", no modo como o pensam Umberto Eco e Boris Tomachevski. No mesmo argumento, procure avaliar a estruturação da seqüência em questão, em seu aspecto de "sucessão de ações" (especialmente no perfil de uma "intriga" ou "enredo" narrativos), no modo como a concebem autores como Umberto Eco, Roland Barthes e Ugo Volli.

Referências Bibliográficas:
BARTHES, Roland. "Introdução à análise estrutural da narrativa". In: Análise Estrutural da Narrativa: pp. 19,62; 
ECO, Umberto. “Estruturas discursivas” e "Estruturas narrativas". In: Lector in Fabula: pp. 69,92;
GENETTE, Gérard. “Fronteiras da narrativa” . In et al.: Análise Estrutural da Narrativa : pp. 265, 284;
TOMACHEVSKI, Boris. "Temática". In: Teoria da Literatura: formalistas russos: pp. 169,204;
VOLLI, Ugo. “Estruturas” e "Histórias". In: Manual de Semiótica: pp. 55,134.

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