Programa da Disciplina para 2025/1

Queridas e queridos,

Abaixo, segue o programa da disciplina para o semestre que está prestes a se iniciar. Peço que leiam esse material com atenção e que façam suas anotações sobre eventuais dúvidas, críticas e/ou sugestões para nosso primeiro encontro presencial, que deve acontecer na próxima quarta-feira, 02 de abril (ver Cronograma).

Espero que tenhamos um ótimo semestre de trabalho.

Nos vemos na próxima quarta.

Até lá,

Benjamim

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
INSTITUTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL 
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CULTURAIS E MÍDIA 

Disciplina: Introdução às Teorias da Narrativa (GEC 114) 
Professor: Benjamim Picado 
Horário: 4as feiras, das 14 às 18:00 
Local: J11, Sala E (IACS-Campus do Gragoatá)

Ementário: Problemas fundamentais da teoria da narrativa. Das formas narrativas às estruturas textuais: as relações entre a história, a narrativa e a narração. As estruturas narrativas: funções, ações e narrações; os princípios do mito e as formas narrativas. A estrutura temporal do narrar: ordem, duração e freqüência; os enlaces entre a compreensão e a expressão do tempo nas formas narrativas. Os modos da narrativa: mimese e diegese. O problema das vozes narrativas. Narrativa, ficção e realidade. As abordagens pragmáticas da narrativa: a dimensão ativa da recepção do texto narrativo. As diferentes matérias semióticas do discurso narrativo. 

Apresentação: Atribui-se alguma importância ao estudo sistemático da narrativa, como modo de acesso a certos aspectos do funcionamento de uma cultura centrada nos modernos meios e processos de comunicação – importância que é proporcional a um considerável abuso do emprego de algumas noções centrais nesse campo, relativamente a seus usos originais nos estudos literários. Neste sentido, “narrativa” é termo-chave que articula questões mais próprias à caracterização de certas práticas no universo mediático (relativas à “enunciação” como aspecto dos textos comunicacionais): confundem-se aí duas ordens de problemas, uma das quais própria à “narrativa”, a outra ao “discurso”. 

Outra ocorrência mais genérica desta referência à narratividade é aquela na qual o caráter “ficcional” de certos processos e produtos de nosso campo de estudos é intuitivamente assimilado ao núcleo conceitual da “narrativa: aqui a confusão que ocorre delimita a diferença entre os conceitos de “narrativa” e de “história”. 

Nosso diagnóstico é o de que, na maior parte dos discursos das teorias e da pesquisa em comunicação, a ocorrência da narrativa é, no mais das vezes, apenas pretextual : desconhece-se o volumoso corpus das reflexões sobre o assunto que trabalharam, nos estudos literários, na teoria da história e na filosofia da linguagem, tomando a narrativa a partir de sua interioridade – e enquanto fenômeno de comunicação através de textos e discursos. 

As disciplinas que refletiram sobre as formas narrativas, suas estruturas internas, seu funcionamento, a ordem dos conhecimentos pressupostos para sua realização na experiência do leitor, suas relações com estruturas mentais e históricas da compreensão do acontecimento, sua variabilidade de manifestações, conforme objetos, modos e meios, a extensão de seus gêneros e suas respectivas regras - todos estes aspectos específicos de um estudo sobre narrativas, pode-se dizer, dissolveram-se na generalidade de sua evocação, em nome de significações vagamente históricas ou discursivas das práticas, processos e produtos do campo mediático. 

Neste sentido, cumpre recobrar o centro de uma reflexão rigorosa sobre as formas narrativas e de sua importância para as teorias da comunicação, num contexto em que a compreensão destes fenômenos passe necessariamente pelo reconhecimento da legitimidade comunicacional da pergunta: o que, afinal de contas, é narrar alguma coisa? 

Conteúdo Programático: 

1a Unidade: Narrativa e Discurso: Temas, Funções e Ações 
a. Introdução: definindo a narrativa a partir de seus limites externos e internos; 
b. Estruturas Tópicas da Narratividade: o estatuto dos mundos narrativos; 
c. Dentro do Discurso Narrativo: Funções e Ações Narrativas. 

2a Unidade: Agentes, Vozes e Temporalidades 
a. Das Funções aos Personagens: Estruturas Actanciais da Narrativa; 
b. Daquilo que é Narrar: Modos e Gêneros Discursivos da Narratividade; 
c. Dimensões da Discordância Temporal: ordem, freqüência e duração. 

3a Unidade: Entrecruzamentos e Jogos
a. O Lugar da Leitura: jogos com o tempo e efeitos estéticos na leitura
b. Narrando Realidades: entrecruzamentos da história com a ficção
c. Para Quem se Narra? horizontes retóricos e estéticos da narratividade

Procedimentos Didáticos: 

O curso será estruturado inteiramente a partir das exposições do docente, cujas notas de apoio estarão disponíveis aos alunos ao final de cada aula para consulta de todos, no blog da disciplina (www.teoriasdanarrativagec114.blogspot.com). Para o bom acompanhamento das aulas, é mais que recomendável que a leitura dos itens bibliográficos de base (Ver Bibliografia Básica) esteja em dia, antes de cada exposição temática - os mesmos estarão disponíveis a todos, em formato PDF, em uma pasta da disciplina, no Dropbox.

Critérios de Avaliação: A avaliação de desempenho da disciplina compreenderá vários itens para seu exame, por parte do docente, divididos da seguinte maneira: 

1. 50% da nota final da disciplina será atribuída, através de uma Avaliação Global, versando sobre a totalidade do conteúdo programático, a ser entregue ao final do semestre (as formas específicas deste exame serão objetos de uma exposição detalhada, no momento da apresentação deste programa, no início do semestre); 
2. 40% da nota final será atribuída através de Avaliações Parciais, aplicadas ao final de cada unidade do Conteúdo Programático (as formas específicas deste exame serão objetos de uma exposição detalhada, no momento da apresentação deste programa, no início do semestre); 
3. 10% da nota final da disciplina será atribuída por critérios de participação e de engajamento, sob várias formas de aferição (assiduidade, pontualidade, envolvimento em sala de aula, iniciativa, atenção às exposições, dentre outros). 

Bibliografia Básica: 

1a Unidade: 
BARTHES, Roland. “Introdução à análise estrutural da narrativa”. In et al.: Análise Estrutural da Narrativa (trad. Maria Zélia Barbosa Pinto). Petrópolis: Vozes (2009): pp. 19,62; 
ECO, Umberto. “As estruturas discursivas” e “As estruturas narrativas”. In: Lector in Fabula (trad. Attílio Cancian). São Paulo: Perspectiva (1986): pp. 69,92; 
ECO, Umberto. "Bosques possíveis". In: Seis Passeios pelos Bosques da Ficção (trad. Hildegard Feist). São Paulo: Cia das Letras (1994): pp. 81, 102; 
GENETTE, Gérard. “Fronteiras da narrativa”. In: et al.: Análise Estrutural da Narrativa (trad. Maria Zélia Barbosa Pinto). Petrópolis: Vozes (2009): pp. 265,284; 
JEHA, Julio. “Mimese e mundos possíveis”. In: Signótica, 5 (1993): pp. 79,90; 
MOTTA, Luiz Gonzaga. "Introdução: Homo narrans (Kathâsaritsâgara)" e "Por que estudar narrativas?". In: Análise Crítica da Narrativa. Brasília: Ed. UnB (2013): pp. 17,62;
TOMACHEVSKI, Boris. “Temática”. In: Teoria da Literatura: formalistas russos. Porto Alegre: Globo (1970): pp. 169, 204; 
TODOROV, Tzvetan. "Análise estrutural da narrativa". In: As Estruturas Narrativas (trad.Leyla Perrone-Moises). São Paulo: Perspectiva (2008): pp. 79,93;
VOLLI, Ugo. “Estruturas” e “Histórias”. In: Manual de Semiótica (trad. Silva Debetto C. Reis). São Paulo: Loyola (2007): pp. 55, 132. 

2a Unidade: 
BARTHES, Roland. "As sucessões de ações". In: A Aventura Semiológica. São Paulo: Martins Fontes (s/d): pp. 153, 166;
BENVENISTE, Émile. “Da subjetividade na linguagem”. In : Problemas de Linguística Geral , vol. 1 (trad. Maria da Glória Novak e Maria Luíza Neri). São Paulo: Martins Fontes (s/d) pp. 284,293; 
BOOTH, Wayne C. "Tipos de narração". In: Retórica da Ficção (trad. Igor Barbosa). Curitiba: Eleia (2022): pp. 137,177;
ECO, Umberto. “Estruturas actanciais e ideológicas”. In: Lector in Fabula (trad. Attílio Cancian). São Paulo: Perspectiva (1986): pp. 151,162; 
ECO, Umberto. “Divagando pelo bosque”. In: Seis Passeios pelos Bosques da Ficção (trad. Hildegard Feist). São Paulo: Cia das Letras (1994): pp. 55,80; 
GENETTE, Gérard. “Modo” e “Voz”. In: Discurso da Narrativa (trad. Fernando Cabral Martins). Lisboa: Vega (1979): pp. 159, 260;
RICOEUR, Paul. "Jogos com o tempo". In: Tempo e Narrativa, vol. 2 (trad. Claudia Berliner). São Paulo: Martins Fontes (2012): pp. 103,172.

3a Unidade:
BARONI, Raphaël. "A Tensão Narrativa Através dos Gêneros: questões éticas e estéticas do suspense". In: Experiência Estética e Performance (Benjamim Picado, Carlos Magno Mendonça, Jorge Cardoso Filho, eds.), Salvador: EDUFBa (2024): pp. 63,82;
BOOTH, Wayne C. "Emoções, crenças e a objetividade do leitor". In: Retórica da Ficção (trad. Igor Barbosa). Curitiba: Eleia (2022): pp.127,156;
ECO, Umberto. "Previsões e passeios inferenciais". In: Lector in Fabula (trad. Attílio Cancian). São Paulo: Perspectiva (1986): pp. 93, 102;
GENETTE, Gérard. “Ordem”, “Duração” e “Freqüência”. In: Discurso da Narrativa (trad. Fernando Cabral Martins). Lisboa: Vega (1979): pp. 31, 158; 
GRITTI, Jules. "Uma Narrativa de Imprensa: os últimos dias de um 'Grande Homem'". In: Análise Estrutural da Narrativa. Petrópolis: Vozes (2009): pp. 170,181;
ISER, Wolfgang. "O jogo do texto". In: A Literatura e o Leitor (Luiz Costa Lima, org.). Rio: Paz&Terra (2002): pp. 105,118;
JAUSS, Hans Robert. "O texto poético na mudança de horizonte da leitura" (trad. Marion S. Hirschmann e Rosane V. Lopes). In: Teoria da Literatura em suas Fontes, vol. 2 (Luiz Costa LIma, org.) Rio: Francisco Alves (1983): 303,358;
RICOEUR, Paul. "O entrecruzamento da história e da ficção" e "O mundo do texto e o mundo do leitor". In: Tempo e Narrativa, vol. 3 (trad. Claudia Berliner). São Paulo: Martins Fontes (2012): pp. 267, 329;
STIERLE, Karlheinz. "O que significa a recepção de textos ficcionais". In: A Literatura e o Leitor (Luiz Costa Lima, org.). Rio: Paz&Terra (2002): pp. 119,172;
WEINRICH, Harald. "Estruturas narrativas na escrita da história". In: A Literatura e o Leitor (Luiz Costa Lima, org.). Rio: Paz&Terra (2002): pp. 173,196.

Cronograma (sujeito a alterações de percurso): 

1. 02/04: Apresentação do Conteúdos Programáticos e Procedimentos Didáticos; 
2. 09/04: Três Fontes dos Saberes sobre Narrativas: Sociedades, Histórias, Poéticas;
3. 16/04: Dos sentidos geral e específico do "narrar": limites da narrativa (Barthes e Genette);
4. 23/04: não haverá aula (São Jorge)
5. 30/04: Do “Quê” das histórias: temas e mundos narrativos (Eco, Volli e Jeha); 
6. 07/05: Da coerência como propriedade semântica: a isotopia textual (Eco e Volli);
7. 14/05: Coerência e sucessão das ações: da isotopia às funções narrativas (Eco e Barthes);
8. 21/05: A Função dos Personagens: estruturas actanciais da narrativa (Eco e Volli);
9. 28/05: O modo narrativo e os regimes do discurso (Genette e Benveniste); 
11. 04/06: Dimensões do “Quando” das Histórias: ordem, frequência e duração (Genette);
12. 11/06: Não haverá aula (Congresso da COMPóS);
13. 18/06: O Lugar da Leitura: jogos com o tempo (Eco, Iser e Ricoeur);
14. 25/06: Narrando Realidades: entrecruzamentos da história e da ficção (Ricoeur e Weinrich)
15. 02/07: Matrizes retóricas e horizontes estéticos da narratividade (Booth e Jauss);
16. 09/07: Sessão Final do Curso.
17. 16/07: a definir;
18. 23/07: a definir.

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