Avaliação Parcial da 2a Unidade do curso (leiam com atenção!!!)

Caros e caras,

Como prometido, seguem abaixo as questões da Avaliação Parcial da 2a Unidade do curso - na qual tratamos de aspectos introdutórios sobre as relações entre centars funções e códigos da narratividade (como aquelas que definem a isotopia própria ao discurso narrativo e a "proairese" que governa suas estruturas episódicas), assim como as duas instâncias mais importantes sobre as quais se articulam esses códigos, aquela dos "personagens" e de seus "papéis actanciais", e a da narração, particualrmente situadas no plano da "voz" e dos "modos" narrativos. 

Antes de lançar as questões, alguns esclarecimentos, contudo: peço especial atenção aos "modos de usar", discriminados no início da avaliação (eles estarão presentes, como instruções prévias, em todas as avaliações parciais até o fim do semestre), pois da observância a esses itens depende uma boa parte do sucesso na resposta às questões, que envolvem sempre uma boa compreensão dos textos de base e uma capacidade razoável de sua aplicação aos casos que são sugeridos para abordagens mais "analíticas" de materiais narrativos da cultura mediática.

Em tempo, ressalto que a data da entrega das respostas (lembrando que vcs. devem escolher duas das três questões logo abaixo para responder), através do sistema do Classroom (na área dos "Atividades") é a próxima sexta-feira, dia 13 de maio.

Desejo boa sorte a todos e todas.

Atenciosamente, 

Benjamim

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CULTURAIS E MÍDIA

Disciplina: Introdução às Teorias da Narrativa (GEC 114)
Professor: Benjamim Picado
Horário: 4as, das 14 às 18:00
Local: Sala J11E (IACS-Campus do Gragoatá)

AVALIAÇÃO PARCIAL - 2a UNIDADE

Modo de Usar: Para o correto tratamento das questões da prova, valorize sua capacidade de argumentação, procurando exercitar algum distanciamento com respeito ao modo de exposição das idéias dos textos centrais da unidade (ao invés de apenas transcrever os textos, procure parafraseá-los um pouco que seja). No que respeita a compreensão dos itens da unidade, valorize um tratamento mais esquemático das idéias mais importantes, prestando sempre atenção naquilo que é especificamente pedido em cada questão. Nas perguntas de teor mais analítico (de exame de objetos ou obras), procure correlacionar os dois domínios de capacidades requisitados (o da boa compreensão dos textos de base e o do exercício não impressionista da análise dos materiais propostos). Em tempo, o limite para abordar cada questão é de 1.000 palavras.
 
1. Considere as seguintes passagens de textos de Umberto Eco, Ugo Volli e Roland Barthes:  


“...uma narração é uma descrição de ações que requer para cada ação descrita um agente, uma intenção do agente, um estado do mundo possível, uma mudança com sua causa e o propósito que a determina; a isto poderíamos acrescentar estados mentais, emoções, circunstancias; mas a descrição é relevante (diríamos: conversacionalmente admissível), se as ações descritas são difíceis e somente se o agente tem uma escolha óbvia sobre o curso de ações a empreender a fim de mudar o estado que não corresponde aos próprios desejos; e os eventos que se seguem a esta decisão devem ser inesperados e alguns deles devem parecer inusuais ou estranhos.” (Eco, "Estruturas narrativas", In: Lector in Fabula, p. 90). 


"Se não há sucessão, também não há narrativa, mas somente descrição, dedução ou efusão lírica. Se não existe integração na unidade de uma ação, não há narrativa, mas apenas pura cronologia, ou enunciação de fatos não-coordenados; finalmente, se não existe interesse humano (ou se os eventos citados não são produzidos por sujeitos humanos ou antropomórficos), não há narrativa, ‘visto que somente em relação a um plano humano é que os eventos tomam sentido e se organizam em uma série temporal estruturada.’” (Volli, "Histórias", In: Manual de Semiótica, p. 113).


"...a análise dos contos permitiu destacarem-se as grandes ações, as articulações primordiais da história (contratos, provas ou aventuras por que passa o herói); mas na narrativa literária (...)  resta uma multidão de ações miúdas, de aparência muitas vezes fútil e maquinal (bater uma portatravar uma conversamarcar um encontro, etc.): deve-se acaso considerar essas ações subsidiárias como uma espécie de fundo insignificante e subtraí-las à análise sob o pretexto de que é evidente e natural que o discurso as enuncie para fazer a ligação entre duas ações principais?" (Barthes, "As sucessões de ações", In: A Aventura Semiológica, p. 154)


"Qualquer que seja a sua pouca importância, sendo composta de um pequeno número de núcleos (...), a sequência comporta sempre momentos de risco, e é isto que justifica a análise: poderia parecer irrisório constituir em sequência a série lógica dos pequenos atos que compõem o oferecimento de um cigarro (oferecer, aceitar, acender, fumar); mas é que, precisamente, em cada um destes pontos, uma alternativa, e pois uma liberdade de sentido, é possível (...). A sequência é, portanto, caso se queira, uma unidade lógica ameaçada: é o que a justifica, a mínimo." (Barthes, "Introdução à análise estrutural da narrativa", in: Análise Estrutural da Narrativa, pp. 41-42) 

Agora, examine a sequência inicial do filme Bram Stoker's Dracula, dirigido por Francis Ford Coppola:

Bram Stoker's Dracula (1992), dir. F.F. Coppola

Com base na leitura dos textos da unidade (ver as "Referências Bibliográficas", mais abaixo), procure analisar esse segmento narrativo de uma fábula sobre a origem da personagem mítica do Conde Vladimir Dracula, considerando os aspectos de sua composição em modo de "intriga" - e através dos quais os eventos da fábula se apresentam na forma de sucessivas disjunções de probabilidade, apresentando assim os horizontes de escolha para seu desfecho. Procure avaliar essas questões, a partir do modo como Roland Barthes e Umberto Eco pensam a estrutura elementar dos episódios narrativos, assim como o sistema das funções que atravessam sua composição enquanto trama de acontecimentos, assim como a da função dos "códigos proairéticos" que articulam a mediação entre disjunções e resoluções de episódios narrativos.

2. Considere as seguintes afirmações dos textos de Roland Barthes, Ugo Volli e Umberto Eco:

"...ali onde a narrativa escolhe a sua própria sobrevivência, é a personagem que parece escolher seu próprio destino: o instinto de conservação de uma fica disfarçado debaixo da aparência de liberdade da outra: a economia narrativa (...) sublima-se em livre arbítrio humano. Essas são as implicações do termo proairetismo que proponho aplicar a toda ação narrativa implicada numa série coerente e homogênea." (Barthes, "As sucessões das ações", p. 157);

"Assim, muitas narrativas põem em ação, em torno de uma presa, dois adversários, cujas ações são deste modo igualadas: o sujeito é então verdadeiramente duplo, sem que se possa por antecipação reduzi-lo por substituição; é mesmo talvez a única forma arcaica corrente, como se a narrativa, à semelhança de certas línguas, tivesse conhecido também um dual de pessoas." (Barthes, "Introdução à análise estrutural da narrativa", p. 47);

"Finalmente, deve-se levar em conta que a empresa do sujeito não é, em geral, solitária, mas exige circunstâncias favoráveis (...), isto é, de adjuvantes animados ou inanimados, e geralmente deve enfrentar um obstáculo, trate-se de um adversário ou oponente de carne e osso, ou de dificuldades mais impessoais, por exemplo, devidas ao ambiente (um bosque, uma montanha, o mar) ou à meteorologia (uma borrasca, o gelo). Cada performance na narrativa (mesmo as menores, que servem para estabelecer a competência e a sanção) possui geralmente um caráter antagonista refletido por essa relação." (Volli, "Histórias", p. 119);

"Poderíamos até dizer que uma estrutura ideológica se manifesta quando conotações axiológicas aparecem associadas a papéis actanciais inscritos no texto. É quando uma armação actancial surge investida de juízos de valor e os papéis veiculam oposiçnoes axiológicas como Bom vs. Mal, Verdadeiro vs. Falso (ou também Vida vs. Morte o Natureza vs. Cultura) que o texto exibe em filigrana sua cultura." (Eco, "Estruturas actanciais e ideológicas", p. 153).

Em seguida, considere esta seqüência, extraída do filme Broadcast News, de Albert J. Brooks:

Broadcast News (1987), dir. Albert J. Brooks (1987)

Tendo em vista as idéias de Roland Barthes sobre a estruturação das seqüências narrativas em torno de um perfil funcional dos personagens, assim como as de Umberto Eco e Ugo Volli sobre "estruturas actânciais" que governam a conduta dos agentes da história, procure analisar esta encenação de um boletim extraordinário de um telejornal, a partir da economia textual das "sucessões de ações" do segmento (no modo como a descreve Roland Barthes), assim como na definição dos "papéis actanciais" e dos sistemas de valor oponenciais que correspondem a cada um de seus principais agentes (no modo como os concebem Umberto Eco e Ugo Volli).

3. Considere as seguintes passagens de textos de Émile Benveniste, Gérard Genette e Roland Barthes, todos relativos ao tópico da "narração", especialmente centrada na questão da subjetividade do discurso narrativo:

"Ora, ao menos em nosso ponto de vista, narrador e personagens são essencialmente 'seres de papel'; o autor (material) de uma narrativa não se pode confundir em nada com o narrador dessa narrativa; os signos do narrador são imanentes à narrativa e, por conseguinte, perfeitamente acessíveis a uma análise semiológica ; mas, para decidir que o próprio autor (...) disponha de 'signos' com os quais salpicaria sua obra, é necessário supor entre a 'pessoa' e sua linguagem uma relação signalética que faz do autor um sujeito pleno e da narratva a expressão instrumental dessa planitude: quem fala (na narrativa) não é quem escreve (na vida) e quem escreve não é quem é." (BARTHES, Roland, "Introdução à análise estrutural da narrativa": p. 50)

"A que, então, se refere o eu? A algo de muito singular, que é exclusivamente linguístico: eu se refere ao ato de discurso individual no qual é pronunciado e lhe designa o locutor. É um termo que não pode ser identificado a não ser dentro do que, noutro passo, chamaremos de uma instância de discurso, e que só tem referência atual. A realidade à qual ele remete é a realidade do discurso. É na instância de discurso na qual eu designa o locutor que este se enuncia como 'sujeito'. É portanto verdade, ao pé da letra, que o fundamento da subjetividade está no exercício da língua." (BENVENISTE, Émile. "A subjetividade na linguagem". p. 288)

"A escolha do romancista não é feita entre duas formas gramaticais, mas entre duas atitudes narrativas (...): fazer contar a história por uma de suas 'personagens' ou por um narrador estranho a esta história. A presença de verbos na primeira pessoa num texto narrativo pode, pois, reenviar para duas situações muito diferentes, que a gramática confunde mas que a análise narrativa deve distinguir: a designação do narrador enquanto tal por si mesmo (...) e a identidade de pessoa entre o narrador e uma das personagens da história." (GENETTE, Gérard, "Voz", p. 243) 

À luz das questões trazidas por estas passagens, avalie as diferenças de organização narrativa entre as seguintes sequências:

High Fidelity (2000), dir. Stephen Frears

Stranger Than Fiction (2008), dir. Marc Forster

Fleabag, "Season 2, Episode 3" (2019), dir. Harry Bradbeer

Analise nesses segmentos de filmes e episódios de séries as diferenças entre os modos de se construir a instância narrativa da transmissão da história, especialmente em vista do modo como cada uma delas define. relação entre uma voz condutora dos segmentos e a eventualidade de que esta "voz" coincida ou não com a figura de um agente narrativo situado no plano da fábula. 

Referências Bibliográficas:
BARTHES, Roland. "Introdução à análise estrutural da narrativa". In: Análise Estrutural da Narrativa;
BARTHES, Roland. "As sucessões de ações". In: A Aventura Semiológica;
ECO, Umberto. "As estruturas narrativas” e "Estruturas actanciais e ideológicas". In: Lector in Fabula
GENETTE, Gérard. "Fonteiras da narrativa". In: Análise Estrutural da Narrativa;
GENETTE, Gérard. "Modo" e "Voz". In: Discurso da Narrativa;
VOLLI, Ugo. “Histórias”. In: Manual de Semiótica. 

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