Avaliação Parcial da 3a Unidade (leiam com atenção!!!)

Caros e caras,

Como prometido, seguem abaixo as questões da Avaliação Parcial da 3a Unidade do curso - na qual tratamos de aspectos relativos à temporalidade narrativa e seus perfis de "discordância" (no plano da "ordem" e da "duração"), assim como a discussão sobre o lugar da leitura nas abordagens estéticas da narratividade e os entrecruzamentos da história e da ficção. 

Antes de lançar as questões, alguns esclarecimentos, contudo: peço especial atenção aos "modos de usar", discriminados no início da avaliação (eles estarão presentes, como instruções prévias, em todas as avaliações parciais até o fim do semestre), pois da observância a esses itens depende uma boa parte do sucesso na resposta às questões, que envolvem sempre uma boa compreensão dos textos de base e uma capacidade razoável de sua aplicação aos casos que são sugeridos para abordagens mais "analíticas" de materiais narrativos da cultura mediática.

Em tempo, ressalto que a data da entrega das respostas (lembrando que vcs. devem escolher duas das três questões logo abaixo para responder), através do sistema do Classroom (na área dos "Atividades") é a próxima sexta-feira, dia 18 de julho.

Desejo boa sorte a todos e todas.

Atenciosamente, 

Benjamim

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CULTURAIS E MÍDIA

Disciplina: Introdução às Teorias da Narrativa (GEC 114)
Professor: Benjamim Picado
Horário: 4as, das 14 às 18:00
Local: Sala J11E (IACS-Campus do Gragoatá)

AVALIAÇÃO PARCIAL - 3a UNIDADE

Modo de Usar: Para o correto tratamento das questões da prova, valorize sua capacidade de argumentação, procurando exercitar algum distanciamento com respeito ao modo de exposição das idéias dos textos centrais da unidade (ao invés de apenas transcrever os textos, procure parafraseá-los um pouco que seja). No que respeita a compreensão dos itens da unidade, valorize um tratamento mais esquemático das idéias mais importantes, prestando sempre atenção naquilo que é especificamente pedido em cada questão. Nas perguntas de teor mais analítico (de exame de objetos ou obras), procure correlacionar os dois domínios de capacidades requisitados (o da boa compreensão dos textos de base e o do exercício não impressionista da análise dos materiais propostos). Em tempo, o limite para abordar cada questão é de 1.000 palavras.

1. Considere as seguintes passagaens dos textos da unidade abordados até aqui:

"Em alguns gêneros narrativos simples, como a história, fábula e entrelaçamento tendem a coincidir: o narrador se atém à sequência cronológica e causal dos acontecimentos sem introduzir digressões ou deslocamentos temporais. Ao contrário, as formas narrativas mais complexas, nas quais emerge em primeiro plano o problema da montagem, jogam muito com as possibilidades do jogo entre fábula e entrelaçamento. Os exemplos mais evidentes desse jogo são dados pelos saltos temporais (adiante - prolepse - e para trás - analepse)." 
In: VOLLI, "Histórias", in: Manual de Semiótica, p. 101;

"É claro que uma estrutura descontínua convém a um tempo de perigos e aventuras, que uma estrutura linear mais contínua convém ao romance de formação dominado pelos temas do desenvolvimento e da metamorfose, enquanto uma cronologia fragmentada, interrompida por saltos, antecicipações e retrospectos (...) convém mais a uma visão do mundo privada de qualquer capacidade de visão panorâmica e de toda coesão interna. A experimentação contemporânea na ordem das técnicas narrativas acompanha assim a fragmentação que afeta a própria experiência do tempo". 
In: RICOEUR, Paul, "Jogos com o tempo", In: Tempo e Narrativa, vol. 2: pp. 137,138;

"Entre os teóricos da ficção, há um certo consenso de que é fácil estabelecer o tempo da história (...). Todavia, é menos fácil determinar o tempo do discurso. Devemos baseá-lo na extensão do texto escrito ou no tempo que a leitura demanda? Não podemos ter certeza de que essas duas durações são exatamente proporcionais. Se tivéssemos que calculá-lo a partir do número de palavras (...), exemplificariam o fenômeno que Gérard Genette chama de 'isocronia' e Seymour Chatman chama de 'cena' - ou seja, onde a história e o discurso tIem duração relativamente igual, como acontece com os diálogos." In: ECO, Umberto. "Divagando pelo bosque". In: Seis Passeios pelos Bosques da Ficção, p. 60;

"Teoricamente, com efeito, existe uma gradação contínua, desde a velocidade infinita, que é a da elipse, em que um segmento nulo de narrativa correpsonde a uma qualquer duração de história, até à absoluta lentidão que é a da pausa descritiva, em que um qualquer segmento do discurso narativo corresponde a uma duração diegética nula." 
In: GENETTE, Gérard. "Duração". In: Discurso da Narrativa, p. 93.  

À luz de todas essas observações, aprecie as duas seqüências, referentes ao acidente do piloto francês Romain Grojean, no Grande Prêmio da Malásia de Fórmula 1 de 2020 - no registro de sua transmissão ao vivo pela televisão e no quadro de uma sequência do documentário dedicado a esta temporada, na plataforma de streaming Netflix:

Romain Grosjean's accident- 2020 Malaysian F1 GP

Romain Grosjean's accident - Drive to Survive, Season 3, Netflix (2021)

Com base no modo como o mesmo evento é exposto, tanto na sua transmissão ao vivo quanto na sequência da série documental, procure analisar (com iguais brevidade e suficiência) suas respectivas configurações narrativas, com respeito às modulações temporais que lhes são próprias, em aspectos como o de sua "ordem" e "duração" - levando em conta suas relações com a temporalidade originária do evento. Procure articular sua argumentação com o uso mais produtivo possível dos textos de referência da unidade relativos ao tema da questão.

2. Considerem as seguintes passagens dos textos referentes à última exposição do curso, versando sobre o lugar da leitura como espaço de efetivação semântica e estética do texto, a partir de fenômenos como os de "sinais de suspense":

"Entrar em estado de expectativa significa fazer previsões. O Leitor-Modelo é chamado a colaborar no desenvolvimento da fábula, antecipando-lhe os estados sucessivos. A antecipação do leitor constitui uma porção de fábula que deveria corresponder àquela que está para ler." (ECO, Umberto. "Previsões e passeios inferenciais". In: Lector in Fabula: p. 95)

"Quanto mais o leitor é atraído pelos procedimentos a jogar os jogos do texto, tanto mais ele é também jogado pelo texto (...). O jogo do texto, portanto, é uma performance para um susposto auditório e, como tal, não é idêntico a um jogo cumprido na vida comum, mas, na verdade, um jogo que se encena para o leitor, a quem é dado um papel que o habilita a realizar o cenário apresentado." (ISER, Wolfgang. "O jogo do texto". In: A Literatura e o Leitor: p. 116)

"...o autor que mais respeita o seu leitor não é aquele que o gratifica ao preço mais baixo; é aquele que lhe deixa mais espaço para desenvolver o jogo contrastado que acabamos de descrever. Só atinge seu leitor se compartilhar com ele um repertório do familiar, quanto ao gênero literário, ao tema, ao conteúdo social, ou mesmo histórico; e se, por outro, praticar uma estratégia de desfamiliarização com relação a todas as normas que a leitura crê poder facilmente reconhecer e adotar" (RICOEUR, Paul. "O mundo do texto e o mundo do leitor". In: Tempo e Narrativa, vol.3: p. 290) 

À luz dessas passagens, considere agora esta famosa seqüência do filme Alien, de Ridley Scott (1979) :

Alien, dir. Ridley Scott (1979)

A partir deste segmento, considere o modo como é produzido o suspense destas cenas, a partir dos problemas formulados pelos textos da unidade, referentes ao lugar da leitura na efetivação do valor próprio de situações narrativas, em seus vários aspectos (tais como aqueles firmados por Eco sobre o leitor-modelo, ou ainda aquele das estruturas de “retenções” e “protensões” do texto narrativo, formulados por Iser e Ricoeur), tudo isto na relação com os horizontes estéticos da recepção e da leitura desta cena.

3. Considere os seguintes segmentos dos textos da 3a unidade:

"É compreensível, portanto, que eu não nego aquilo a que alguns observadores das narrativas mediáticas denunciam, enquanto uma deriva sensacionalista do discurso jonralístico. No entanto, gostaria de acrescentar que a racionalidade não está completamente evacuada em um tal contexto e que, ademais, às narrativas de alguns podem se opor as versões de outros. O que importa, em última análise, é que a esfera pública oferece espaço para histórias conflitantes, observando-se para tanto determinados padrões éticos, o que está longe de ser garantido em um universo mediático dominado pela lógica do lucro." (BARONI, Raphaël. "A Tensão Narrativa Através dos Gêneros: questões éticas e estéticas do suspense", in: Experiência Estética e Performance: p. 77);

"À primeira vista, a diegese de um conto, de uma obra dramática, de um filme...parece diferir da de uma narrativa de jornal: a primeira emana de uma criação fabuladora, a segunda é comandada dia a dia pelo acontecimento; na primeira, o 'suspense' é mannipulado, na segunda aparece inteiramente dado. O acontecimento opor-se-ia à estrutura como a natureza ao 'artefato', o acidental ao categorial. E, entretanto, 'seja a ação vivid ou representada , o vivido transmuta-se em representado, o dado circunstancial é apreendido segundo as 'categorias' da narrativa". (GRITTI, Jules, "Uma Narrativa de Imprensa: os últimos dias de um 'Grande Homem'", in: Análise Estrutural da Narrativa: p. 171) 

"Fingimos vrer que a leitura só diz respeito à recepção dos textos literários. Ora, somos leitores de história quanto de romances. Toda grafia, portanto a historiografia, remete a uma teoria ampliada da leitura (...). Nesse sentido, as análises do entrecruzamento da história e da ficção que vamos esboçar remetem a uma teoria ampliada da recepção, da qual o ato de leitura é o momento fenomenológico. É nessa teoria ampliada da leitura que se dá a inversão, da divergência para a convergência, entre a narrativa histórica e a narrativa de ficção." (RICOEUR, Paul. "O entrecruzamento da história e da ficção". in Tempo e Narrativa 3: p. 311) 

À luz dessas referências, aprecie a seguir o seguinte «past blogging» feito pelo jornal Folha de São Paulo, para recapitular os episódios que desfecharam o golpe militar de 1964, no seguinte link:


Avaliando estes materiais como ilustrativos dos registros narrativos do relato jornalístico, analise os elementos textuais da reportagem (em suas 11 páginas), tendo em vista as considerações de Paul Ricoeur sobre os entrecruzamentos dos registros narrativos da história com os da ficção, assim como as observações de Raphaël Baroni e Jules Gritti sobre os regimes narratológicos do fait divers jornalístico, tanto no que respeita a lógica evolutiva e seus sinais de suspense quanto aos personagens e suas funções específicas na trama histórica.

Referências Bibliográficas:
BARONI, Raphaël. "A Tensão Narrativa Através dos Gêneros: questões éticas e estéticas do suspense". In: Experiência Estética e Performance;
ECO, Umberto. “Divagando pelo bosque”. In: Seis Passeios pelos Bosques da Ficção
ECO, Umberto. "Previsões e passeios inferenciais". In: Seis Passeios pelos Bosques da Ficção
GENETTE, Gérard. "Ordem". In: Discurso da Narrativa;
GENETTE, Gérard. “Duração” In: Discurso da Narrativa;
GRITTI, Jules. "Uma Narrativa de Imprensa: os últimos dias de um 'Grande Homem'". In: Análise Estrutural da Narrativa;
ISER, Wolfgang. "O jogo do texto". In: A Literatura e seu Leitor
RICOEUR, Paul. “Os jogos com o tempo”. In : Tempo e Narrativa, Vol. 2;
RICOEUR, Paul. "O mundo do texto e o mundo do leitor". In: Tempo e Narrativa, vol. 3;
RICOEUR, Paul. "O entrecruzamento da história e da ficção". In: Tempo e Narrativa, vol. 3.
VOLLI, Ugo. “Histórias”. In: Manual de Semiótica.


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