Avaliação Global da Disciplina + instruções (leiam com muita atenção!!!!)

Caros e caras,

Logo abaixo, seguem as questões relativas à Avaliação Global da disciplina, contendo todas aquelas que foram submetidas durante o semestre, nas 3 unidades do programa. Gostaria apenas de destacar algumas coisas sobre as quais já falei em sala de aula, nas últimas sessões do curso - mas que podem haver escapado aos muitos daqueles que abandonaram nossos encontros um pouco mais cedo que o devido.

Em primeiro lugar, destaco que as respostas a essas questões não será obrigatória - dado que decidi contabilizar as duas melhores notas de cada um no semestre, para compor a nota da Avaliação Global (que correpsonde a 50% da nota final da disciplina, como consta do programa, publicizado no início do semestre e disponível aqui no blog). Assim sendo, se nenhum de vcs. me devolver respostas na data prevista para a entrega das mesmas, vcs. terão computadas como nota da Avaliação Global as duas melhores notas atribuídas nas Avaliações Parciais no semestre (mesmo que sejam duas respostas de uma mesma avaliação).

Em seguida, para aqueles que ainda assim desejarem responder esta Avaliação Global, informo que a questão de resposta obrigatória estará destacada em negrito, logo abaixo. E que o prazo para entrega das respostas, através da aba "Atividades" do Google Classroom, é o dia 25/07, próxima sexta-feira. Sempre lembrando que, nesses casos, avaliarei as respostas com o mesmo rigor que o fiz nas Avaliações Parciais - o que pode resultar em uma diminuição da nota final, a partir da aplicação do critério que estipulei no parágrafo anterior.

Desejo uma boa semana a todos e todas.

Abraços,

Benjamim

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CULTURAIS E MÍDIA

Disciplina: Introdução às Teorias da Narrativa (GEC 114)
Professor: Benjamim Picado
Horário: 4as, das 14 às 18:00
Local: Sala J11E (IACS-Campus do Gragoatá)

AVALIAÇÃO GLOBAL

Modo de Usar: Para o correto tratamento das questões da prova, valorize sua capacidade de argumentação, procurando exercitar algum distanciamento com respeito ao modo de exposição das idéias dos textos centrais da unidade (ao invés de apenas transcrever os textos, procure parafraseá-los um pouco que seja). No que respeita a compreensão dos itens da unidade, valorize um tratamento mais esquemático das idéias mais importantes, prestando sempre atenção naquilo que é especificamente pedido em cada questão. Nas perguntas de teor mais analítico (de exame de objetos ou obras), procure correlacionar os dois domínios de capacidades requisitados (o da boa compreensão dos textos de base e o do exercício não impressionista da análise dos materiais propostos). Em tempo, o limite para abordar cada questão é de 1.000 palavras.
  
1. Considere as duas seguintes passagens do texto "Fronteiras da narrativa", de Gérard Genette - primeiramente esta, em sua página 269:

"A imitação direta, tal como funciona em cena, consiste em gestos e falas. Enquanto que constituída por gestos, ela pode evidentemente representar ações, mas escapa aqui ao plano linguístico, que é aquele onde se exerce a atividade específica do poeta. Enquanto que constituída por falas, discursos emitidos por personagens (...), ela não é rigorosamente representativa, pois que se limita a reproduzir tal e qual um discurso ereal ou fictício".

A seguir, outra passagem do mesmo texto, agora, nas páginas 271 e 272:

"A representação literária, a mimesis dos antigos, não é portanto a narrativa 'mais' os discursos: é a narrativa e somente a narrativa. Platão oporia mimesis a diegesis como uma imitação perefeita a uma imitação imperfeita. Mas a imitação perfeita não é mais uma imitação, é a coisa mesmo, e finalmente a única imitação é a imperfeita. Mímesis é diegesis."

Considerando aquilo que Genette afirma sobre o horizonte "diegético" de toda "mímese" (isto é, o fato de que, em contextos narrativos, mesmo a imitação já é diegética), como vc. decomporia a seguinte seqüência fílmica em seus elementos respectivamente imitativos e/ou narrativos? 

Heat (1995), dir. Michaell Mann

Procure argumentar sobre o ponto a partir da compreensão sobre os textos básicos da unidade tratados até aqui e se valendo de algum poder de síntese na argumentação sobre o ponto. 

2. Considerando as argumentações dos textos de Umberto Eco, Ugo Volli e Boris Tomachevski, procure discorrer suficientemente (mas de modo breve) sobre as diferenças e/ou proximidades entre os conceitos de "topic" e de "tema" - especialmente com respeito àquilo que, no modo como se determinam os conteúdos semânticos dos textos, faz as estruturas textuais e discursivas da narrativa dependerem da interação entre as a superfície dos textos e os processos de leitura. Ao tratar da questão, procure desenvolver seus argumentos a partir de algum exemplo prático que seja (uma notícia de jornal, uma seqüência fílmica, um episódio de um romance, uma página de quadrinhos, etc.)

3. Avalie a seguinte passagem do texto de Ugo Volli, "Estruturas" (em seu Manual de Semiótica, às sua páginas 86 e 87):

"Greimas define a isotopia como um 'conjunto de categorias semânticas redundates, que tornam possível a leitura uniforme da história' (...). Se dizemos 'Paulo derrubou a garrafa. A toalha estava toda manchada', a coerência entre as duas frases (...) é assegurada pelo fato de que em nossa enciclopédia sabemos que as garrafas geralmente contém vinho, que o vinho é servido com frequência à mesa, que as mesas para as refeições geralmente são cobertas com toalhas, que o líquido contido nas garrafas derrubadas se espalha, impregnando aquilo sobre o qual estão apoiadas, e que, finalmente, o vinho tem coloração, logo mancha os tecidos." 

A seguir, considere esta outra passagem, desta feita de Umberto Eco, no capítulo "Estruturas discursivas" (em seu Lector in Fabula, à página 74):

"Há casos em que topic e isotopia parecem coincidir, mas fique claro que o topic é um fenomeno pragmático ao passo que a isotopia é um fenômeno semântico. O topic é uma hipótese que depende da iniciativa do leitor (...). Portanto, ínstrumento metatextual que  texto pode tanto pressupor quanto conter explicitamente, como marcadores de topic, títulos, subtítulos, expressões-guia. Com base no topic, o leitor decide magnificar ou narcotizar as propriedades semânticas (...) em jogo, estabelecendo um nível de coerência interpretativa, chamada isotopia."  

Com base na leitura dos dois textos, procure analisar o seguinte episódio do Porta dos Fundos:


Porta dos Fundos - Retrospectiva 2021

Ao analisar esse segmento, discorra suficientemente (mas de modo breve) sobre as diferenças entre os conceitos de topic e de "isotopia" - especialmente com respeito àquilo que, nas estruturas textuais e discursivas da narrativa, dependem simultaneamente da interação entre texto e leitura e das propriedades semânticas internas ao texto. Na medida do possível, procure comparar esses conceitos com a argumentação que Boris Tomachevski desenvolve sobre o problema da "temática" das obras narrativas.

4. Considere a seguinte passagem do capítulo "Histórias", em Manual de Semiótica, de Ugo Volli, (à sua página 94):

"A maior importância da manifestação linear do texto é uma das características que distingüem a linguagem poética da [linguagem] cotidiana. Enquanto na linguagem cotidiana - de função principalmente referencial - habitualmente entendemos as palavras como mero veículo para exprimir certas idéias ou certas afirmativas sobre eventos ou objetos do mundo real (...), na linguagem poética - na qual a função estética é mais acentuada - às vezes são introduzidos determinados artifícios que visam manipular a superfície expressiva do texto e portanto perturbar o automatismo da percepção e da interpretação referencial."

Em seguida, leve em conta esta outra passagem, desta feita extraída do capítulo "Estruturas narrativas", em Lector in Fabula, de Umberto Eco (às páginas 90 e 91):

"O primeiro livro do Genesis conta, decerto, uma história em que ocorrem mudanças de estado, por obra de um agente cheio de claros propósitos, o qual ativando causas e efeitos pratica ações de rara dificuldade que (...) não constituem escolha totalmente óbvia. Mas ninguém poderia dizer que os eventos conseqüentes à ação resultavam ser inesperados, estranhos ou inusuais para o agente, porque ele sabia com exatidão o que aconteceria se dissesse fiat lux ou se separasse a terra das águas (...). Todavia, seria difícil negar que o relato sobre a criação do universo constitui uma bela obra de narrativa."

Por fim, avalie este outro segmento, oriundo de "Introdução à análise estrutural da narrativa", de Roland Barthes (às páginas 40 e 41):

"Uma seqüência é uma série lógica de núcleos, ligados entre si por uma relação de solidariedade: a seqüência abre-se assim que um de seus termos não tenha antecedente solidário e se fecha logo que um de seus termos não tenha mais conseqüente. Para tomar um exemplo voluntariamente fútil, pedir uma consumação, recebê-la, consumi-la, pagá-la, estas diferentes funções constituem uma seqüência evidentemente fechada, pois não é possível fazer preceder a encomenda ou fazer seguir o pagamento sem sair do conjunto homogêneo consumação."

Tendo em vista os problemas apresentados nessas passagens, versando sobre as especificidades e funcionalidades da seqüência narrativa, avalie agora este breve episódio do início do romance A Metamorfose, do escritor tcheco Franz Kafka: 

Franz Kafka, A Metamorfose

Com base na leitura dos textos da unidade e também levando em conta os segmentos desses mesmos textos acima referidos, procure analisar esse segmento narrativo, considerando os aspectos de sua coerência interna (sua "isotopia"), enquanto elementos que funcionalizam essa sequência como "porção de fábula", no modo como o pensam Umberto Eco e Boris Tomachevski. No mesmo argumento, procure avaliar a estruturação da seqüência em questão, em seu aspecto de "sucessão de ações" (especialmente no perfil de uma "intriga" ou "enredo" narrativos), no modo como a concebem autores como Umberto Eco, Roland Barthes e Ugo Volli.

5. Considere as seguintes passagens de textos de Umberto Eco, Ugo Volli e Roland Barthes:  


“...uma narração é uma descrição de ações que requer para cada ação descrita um agente, uma intenção do agente, um estado do mundo possível, uma mudança com sua causa e o propósito que a determina; a isto poderíamos acrescentar estados mentais, emoções, circunstancias; mas a descrição é relevante (diríamos: conversacionalmente admissível), se as ações descritas são difíceis e somente se o agente tem uma escolha óbvia sobre o curso de ações a empreender a fim de mudar o estado que não corresponde aos próprios desejos; e os eventos que se seguem a esta decisão devem ser inesperados e alguns deles devem parecer inusuais ou estranhos.” (Eco, "Estruturas narrativas", In: Lector in Fabula, p. 90). 


"Se não há sucessão, também não há narrativa, mas somente descrição, dedução ou efusão lírica. Se não existe integração na unidade de uma ação, não há narrativa, mas apenas pura cronologia, ou enunciação de fatos não-coordenados; finalmente, se não existe interesse humano (ou se os eventos citados não são produzidos por sujeitos humanos ou antropomórficos), não há narrativa, ‘visto que somente em relação a um plano humano é que os eventos tomam sentido e se organizam em uma série temporal estruturada.’” (Volli, "Histórias", In: Manual de Semiótica, p. 113).


"...a análise dos contos permitiu destacarem-se as grandes ações, as articulações primordiais da história (contratos, provas ou aventuras por que passa o herói); mas na narrativa literária (...)  resta uma multidão de ações miúdas, de aparência muitas vezes fútil e maquinal (bater uma portatravar uma conversamarcar um encontro, etc.): deve-se acaso considerar essas ações subsidiárias como uma espécie de fundo insignificante e subtraí-las à análise sob o pretexto de que é evidente e natural que o discurso as enuncie para fazer a ligação entre duas ações principais?" (Barthes, "As sucessões de ações", In: A Aventura Semiológica, p. 154)


"Qualquer que seja a sua pouca importância, sendo composta de um pequeno número de núcleos (...), a sequência comporta sempre momentos de risco, e é isto que justifica a análise: poderia parecer irrisório constituir em sequência a série lógica dos pequenos atos que compõem o oferecimento de um cigarro (oferecer, aceitar, acender, fumar); mas é que, precisamente, em cada um destes pontos, uma alternativa, e pois uma liberdade de sentido, é possível (...). A sequência é, portanto, caso se queira, uma unidade lógica ameaçada: é o que a justifica, a mínimo." (Barthes, "Introdução à análise estrutural da narrativa", in: Análise Estrutural da Narrativa, pp. 41-42) 

Agora, examine a sequência inicial do filme Bram Stoker's Dracula, dirigido por Francis Ford Coppola:

Bram Stoker's Dracula (1992), dir. F.F. Coppola

Com base na leitura dos textos da unidade (ver as "Referências Bibliográficas", mais abaixo), procure analisar esse segmento narrativo de uma fábula sobre a origem da personagem mítica do Conde Vladimir Dracula, considerando os aspectos de sua composição em modo de "intriga" - e através dos quais os eventos da fábula se apresentam na forma de sucessivas disjunções de probabilidade, apresentando assim os horizontes de escolha para seu desfecho. Procure avaliar essas questões, a partir do modo como Roland Barthes e Umberto Eco pensam a estrutura elementar dos episódios narrativos, assim como o sistema das funções que atravessam sua composição enquanto trama de acontecimentos, assim como a da função dos "códigos proairéticos" que articulam a mediação entre disjunções e resoluções de episódios narrativos.

6. Considere as seguintes afirmações dos textos de Roland Barthes, Ugo Volli e Umberto Eco:

"...ali onde a narrativa escolhe a sua própria sobrevivência, é a personagem que parece escolher seu próprio destino: o instinto de conservação de uma fica disfarçado debaixo da aparência de liberdade da outra: a economia narrativa (...) sublima-se em livre arbítrio humano. Essas são as implicações do termo proairetismo que proponho aplicar a toda ação narrativa implicada numa série coerente e homogênea." (Barthes, "As sucessões das ações", p. 157);

"Assim, muitas narrativas põem em ação, em torno de uma presa, dois adversários, cujas ações são deste modo igualadas: o sujeito é então verdadeiramente duplo, sem que se possa por antecipação reduzi-lo por substituição; é mesmo talvez a única forma arcaica corrente, como se a narrativa, à semelhança de certas línguas, tivesse conhecido também um dual de pessoas." (Barthes, "Introdução à análise estrutural da narrativa", p. 47);

"Finalmente, deve-se levar em conta que a empresa do sujeito não é, em geral, solitária, mas exige circunstâncias favoráveis (...), isto é, de adjuvantes animados ou inanimados, e geralmente deve enfrentar um obstáculo, trate-se de um adversário ou oponente de carne e osso, ou de dificuldades mais impessoais, por exemplo, devidas ao ambiente (um bosque, uma montanha, o mar) ou à meteorologia (uma borrasca, o gelo). Cada performance na narrativa (mesmo as menores, que servem para estabelecer a competência e a sanção) possui geralmente um caráter antagonista refletido por essa relação." (Volli, "Histórias", p. 119);

"Poderíamos até dizer que uma estrutura ideológica se manifesta quando conotações axiológicas aparecem associadas a papéis actanciais inscritos no texto. É quando uma armação actancial surge investida de juízos de valor e os papéis veiculam oposiçnoes axiológicas como Bom vs. Mal, Verdadeiro vs. Falso (ou também Vida vs. Morte o Natureza vs. Cultura) que o texto exibe em filigrana sua cultura." (Eco, "Estruturas actanciais e ideológicas", p. 153).

Em seguida, considere esta seqüência, extraída do filme Broadcast News, de Albert J. Brooks:

Broadcast News (1987), dir. Albert J. Brooks (1987)

Tendo em vista as idéias de Roland Barthes sobre a estruturação das seqüências narrativas em torno de um perfil funcional dos personagens, assim como as de Umberto Eco e Ugo Volli sobre "estruturas actânciais" que governam a conduta dos agentes da história, procure analisar esta encenação de um boletim extraordinário de um telejornal, a partir da economia textual das "sucessões de ações" do segmento (no modo como a descreve Roland Barthes), assim como na definição dos "papéis actanciais" e dos sistemas de valor oponenciais que correspondem a cada um de seus principais agentes (no modo como os concebem Umberto Eco e Ugo Volli).

7. Considere as seguintes passagens de textos de Émile Benveniste, Gérard Genette e Roland Barthes, todos relativos ao tópico da "narração", especialmente centrada na questão da subjetividade do discurso narrativo:

"Ora, ao menos em nosso ponto de vista, narrador e personagens são essencialmente 'seres de papel'; o autor (material) de uma narrativa não se pode confundir em nada com o narrador dessa narrativa; os signos do narrador são imanentes à narrativa e, por conseguinte, perfeitamente acessíveis a uma análise semiológica ; mas, para decidir que o próprio autor (...) disponha de 'signos' com os quais salpicaria sua obra, é necessário supor entre a 'pessoa' e sua linguagem uma relação signalética que faz do autor um sujeito pleno e da narratva a expressão instrumental dessa planitude: quem fala (na narrativa) não é quem escreve (na vida) e quem escreve não é quem é." (BARTHES, Roland, "Introdução à análise estrutural da narrativa": p. 50)

"A que, então, se refere o eu? A algo de muito singular, que é exclusivamente linguístico: eu se refere ao ato de discurso individual no qual é pronunciado e lhe designa o locutor. É um termo que não pode ser identificado a não ser dentro do que, noutro passo, chamaremos de uma instância de discurso, e que só tem referência atual. A realidade à qual ele remete é a realidade do discurso. É na instância de discurso na qual eu designa o locutor que este se enuncia como 'sujeito'. É portanto verdade, ao pé da letra, que o fundamento da subjetividade está no exercício da língua." (BENVENISTE, Émile. "A subjetividade na linguagem". p. 288)

"A escolha do romancista não é feita entre duas formas gramaticais, mas entre duas atitudes narrativas (...): fazer contar a história por uma de suas 'personagens' ou por um narrador estranho a esta história. A presença de verbos na primeira pessoa num texto narrativo pode, pois, reenviar para duas situações muito diferentes, que a gramática confunde mas que a análise narrativa deve distinguir: a designação do narrador enquanto tal por si mesmo (...) e a identidade de pessoa entre o narrador e uma das personagens da história." (GENETTE, Gérard, "Voz", p. 243) 

À luz das questões trazidas por estas passagens, avalie as diferenças de organização narrativa entre as seguintes sequências:

High Fidelity (2000), dir. Stephen Frears

Stranger Than Fiction (2008), dir. Marc Forster

Fleabag, "Season 2, Episode 3" (2019), dir. Harry Bradbeer

Analise nesses segmentos de filmes e episódios de séries as diferenças entre os modos de se construir a instância narrativa da transmissão da história, especialmente em vista do modo como cada uma delas define. relação entre uma voz condutora dos segmentos e a eventualidade de que esta "voz" coincida ou não com a figura de um agente narrativo situado no plano da fábula. 

8. Considere as seguintes passagaens dos textos da unidade abordados até aqui:

"Em alguns gêneros narrativos simples, como a história, fábula e entrelaçamento tendem a coincidir: o narrador se atém à sequência cronológica e causal dos acontecimentos sem introduzir digressões ou deslocamentos temporais. Ao contrário, as formas narrativas mais complexas, nas quais emerge em primeiro plano o problema da montagem, jogam muito com as possibilidades do jogo entre fábula e entrelaçamento. Os exemplos mais evidentes desse jogo são dados pelos saltos temporais (adiante - prolepse - e para trás - analepse)." 
In: VOLLI, "Histórias", in: Manual de Semiótica, p. 101;

"É claro que uma estrutura descontínua convém a um tempo de perigos e aventuras, que uma estrutura linear mais contínua convém ao romance de formação dominado pelos temas do desenvolvimento e da metamorfose, enquanto uma cronologia fragmentada, interrompida por saltos, antecicipações e retrospectos (...) convém mais a uma visão do mundo privada de qualquer capacidade de visão panorâmica e de toda coesão interna. A experimentação contemporânea na ordem das técnicas narrativas acompanha assim a fragmentação que afeta a própria experiência do tempo". 
In: RICOEUR, Paul, "Jogos com o tempo", In: Tempo e Narrativa, vol. 2: pp. 137,138;

"Entre os teóricos da ficção, há um certo consenso de que é fácil estabelecer o tempo da história (...). Todavia, é menos fácil determinar o tempo do discurso. Devemos baseá-lo na extensão do texto escrito ou no tempo que a leitura demanda? Não podemos ter certeza de que essas duas durações são exatamente proporcionais. Se tivéssemos que calculá-lo a partir do número de palavras (...), exemplificariam o fenômeno que Gérard Genette chama de 'isocronia' e Seymour Chatman chama de 'cena' - ou seja, onde a história e o discurso tIem duração relativamente igual, como acontece com os diálogos." In: ECO, Umberto. "Divagando pelo bosque". In: Seis Passeios pelos Bosques da Ficção, p. 60;

"Teoricamente, com efeito, existe uma gradação contínua, desde a velocidade infinita, que é a da elipse, em que um segmento nulo de narrativa correpsonde a uma qualquer duração de história, até à absoluta lentidão que é a da pausa descritiva, em que um qualquer segmento do discurso narativo corresponde a uma duração diegética nula." 
In: GENETTE, Gérard. "Duração". In: Discurso da Narrativa, p. 93.  

À luz de todas essas observações, aprecie as duas seqüências, referentes ao acidente do piloto francês Romain Grojean, no Grande Prêmio da Malásia de Fórmula 1 de 2020 - no registro de sua transmissão ao vivo pela televisão e no quadro de uma sequência do documentário dedicado a esta temporada, na plataforma de streaming Netflix:

Romain Grosjean's accident- 2020 Malaysian F1 GP

Romain Grosjean's accident - Drive to Survive, Season 3, Netflix (2021)

Com base no modo como o mesmo evento é exposto, tanto na sua transmissão ao vivo quanto na sequência da série documental, procure analisar (com iguais brevidade e suficiência) suas respectivas configurações narrativas, com respeito às modulações temporais que lhes são próprias, em aspectos como o de sua "ordem" e "duração" - levando em conta suas relações com a temporalidade originária do evento. Procure articular sua argumentação com o uso mais produtivo possível dos textos de referência da unidade relativos ao tema da questão.

9. Considerem as seguintes passagens dos textos referentes à última exposição do curso, versando sobre o lugar da leitura como espaço de efetivação semântica e estética do texto, a partir de fenômenos como os de "sinais de suspense":

"Entrar em estado de expectativa significa fazer previsões. O Leitor-Modelo é chamado a colaborar no desenvolvimento da fábula, antecipando-lhe os estados sucessivos. A antecipação do leitor constitui uma porção de fábula que deveria corresponder àquela que está para ler." (ECO, Umberto. "Previsões e passeios inferenciais". In: Lector in Fabula: p. 95)

"Quanto mais o leitor é atraído pelos procedimentos a jogar os jogos do texto, tanto mais ele é também jogado pelo texto (...). O jogo do texto, portanto, é uma performance para um susposto auditório e, como tal, não é idêntico a um jogo cumprido na vida comum, mas, na verdade, um jogo que se encena para o leitor, a quem é dado um papel que o habilita a realizar o cenário apresentado." (ISER, Wolfgang. "O jogo do texto". In: A Literatura e o Leitor: p. 116)

"...o autor que mais respeita o seu leitor não é aquele que o gratifica ao preço mais baixo; é aquele que lhe deixa mais espaço para desenvolver o jogo contrastado que acabamos de descrever. Só atinge seu leitor se compartilhar com ele um repertório do familiar, quanto ao gênero literário, ao tema, ao conteúdo social, ou mesmo histórico; e se, por outro, praticar uma estratégia de desfamiliarização com relação a todas as normas que a leitura crê poder facilmente reconhecer e adotar" (RICOEUR, Paul. "O mundo do texto e o mundo do leitor". In: Tempo e Narrativa, vol.3: p. 290) 

À luz dessas passagens, considere agora esta famosa seqüência do filme Alien, de Ridley Scott (1979) :

Alien, dir. Ridley Scott (1979)

A partir deste segmento, considere o modo como é produzido o suspense destas cenas, a partir dos problemas formulados pelos textos da unidade, referentes ao lugar da leitura na efetivação do valor próprio de situações narrativas, em seus vários aspectos (tais como aqueles firmados por Eco sobre o leitor-modelo, ou ainda aquele das estruturas de “retenções” e “protensões” do texto narrativo, formulados por Iser e Ricoeur), tudo isto na relação com os horizontes estéticos da recepção e da leitura desta cena.

10. Considere os seguintes segmentos dos textos da 3a unidade:

"É compreensível, portanto, que eu não nego aquilo a que alguns observadores das narrativas mediáticas denunciam, enquanto uma deriva sensacionalista do discurso jonralístico. No entanto, gostaria de acrescentar que a racionalidade não está completamente evacuada em um tal contexto e que, ademais, às narrativas de alguns podem se opor as versões de outros. O que importa, em última análise, é que a esfera pública oferece espaço para histórias conflitantes, observando-se para tanto determinados padrões éticos, o que está longe de ser garantido em um universo mediático dominado pela lógica do lucro." (BARONI, Raphaël. "A Tensão Narrativa Através dos Gêneros: questões éticas e estéticas do suspense", in: Experiência Estética e Performance: p. 77);

"À primeira vista, a diegese de um conto, de uma obra dramática, de um filme...parece diferir da de uma narrativa de jornal: a primeira emana de uma criação fabuladora, a segunda é comandada dia a dia pelo acontecimento; na primeira, o 'suspense' é mannipulado, na segunda aparece inteiramente dado. O acontecimento opor-se-ia à estrutura como a natureza ao 'artefato', o acidental ao categorial. E, entretanto, 'seja a ação vivid ou representada , o vivido transmuta-se em representado, o dado circunstancial é apreendido segundo as 'categorias' da narrativa". (GRITTI, Jules, "Uma Narrativa de Imprensa: os últimos dias de um 'Grande Homem'", in: Análise Estrutural da Narrativa: p. 171) 

"Fingimos vrer que a leitura só diz respeito à recepção dos textos literários. Ora, somos leitores de história quanto de romances. Toda grafia, portanto a historiografia, remete a uma teoria ampliada da leitura (...). Nesse sentido, as análises do entrecruzamento da história e da ficção que vamos esboçar remetem a uma teoria ampliada da recepção, da qual o ato de leitura é o momento fenomenológico. É nessa teoria ampliada da leitura que se dá a inversão, da divergência para a convergência, entre a narrativa histórica e a narrativa de ficção." (RICOEUR, Paul. "O entrecruzamento da história e da ficção". in Tempo e Narrativa 3: p. 311) 

À luz dessas referências, aprecie a seguir o seguinte «past blogging» feito pelo jornal Folha de São Paulo, para recapitular os episódios que desfecharam o golpe militar de 1964, no seguinte link:


Avaliando estes materiais como ilustrativos dos registros narrativos do relato jornalístico, analise os elementos textuais da reportagem (em suas 11 páginas), tendo em vista as considerações de Paul Ricoeur sobre os entrecruzamentos dos registros narrativos da história com os da ficção, assim como as observações de Raphaël Baroni e Jules Gritti sobre os regimes narratológicos do fait divers jornalístico, tanto no que respeita a lógica evolutiva e seus sinais de suspense quanto aos personagens e suas funções específicas na trama histórica.

Referências Bibliográficas:
BARONI, Raphaël. "A Tensão Narrativa Através dos Gêneros: questões éticas e estéticas do suspense". In: Experiência Estética e Performance;
BARTHES, Roland. "Introdução à análise estrutural da narrativa". In: Análise Estrutural da Narrativa;
BARTHES, Roland. "As sucessões de ações". In: A Aventura Semiológica;
ECO, Umberto. "As estruturas narrativas”, "Estruturas discursivas" e "Estruturas actanciais e ideológicas" e "Previsões e passeios inferenciais". In: Lector in Fabula
ECO, Umberto. “Divagando pelo bosque” In: Seis Passeios pelos Bosques da Ficção
GENETTE, Gérard. "Fonteiras da narrativa". In: Análise Estrutural da Narrativa;
GENETTE, Gérard. "Ordem", "Duração", "Modo" e "Voz". In: Discurso da Narrativa;
GRITTI, Jules. "Uma Narrativa de Imprensa: os últimos dias de um 'Grande Homem'". In: Análise Estrutural da Narrativa;
ISER, Wolfgang. "O jogo do texto". In: A Literatura e o Leitor;
RICOEUR, Paul. “Os jogos com o tempo”. In : Tempo e Narrativa, vol.2;
RICOEUR, Paul. "O entrecruzamento da história e da ficção". In: Tempo e Narrativa, vol. 3;
TOMACHEVSKI, Boris. "Temática". In: Teoria da Literatura: formalistas russos;
VOLLI, Ugo. “Estruturas” e "Histórias". In: Manual de Semiótica.

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